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Análises laboratoriais em carboidratos

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Análises em carboidratos, como o método de Fehling, oferecem insights importantes sobre a presença e quantidade desses compostos em amostras, permitindo uma avaliação precisa de sua composição.

 

A macromolécula mais abundante encontrada na natureza é o carboidrato. Desempenha um papel essencial na biologia e nutrição e é uma das principais fontes de energia para os seres vivos. Para a compreensão da sua estrutura, composição e função, são necessárias análises laboratoriais especificas. Nesse texto, exploraremos a definição, composição, funções e métodos de determinação de carboidratos, com enfoque no método de Lane-Eynon.

O QUE SÃO CARBOIDRATOS?

Carboidratos são biomoléculas que constituem os seres vivos, assim como os ácidos nucleicos, proteínas e os lipídios. São conhecidos como hidratos de carbono, açúcares ou glicídios, além de serem fontes de energia, também são fundamentais em diversos processos biológicos.

 

São compostas por átomos de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), na proporção de 1:2:1, representados pela fórmula geral CH2O, sua estrutura química básica consiste em cadeias ou anéis formados por unidades de monossacarídeos, que são os blocos de construção dos carboidratos. Alguns carboidratos podem apresentar outros tipos de átomos nas suas moléculas, como ocorre com a quitina, que possui átomos de nitrogênio.

 

Existem três classes principais de carboidratos, os monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos, que serão divididos de acordo com a quantidade de átomos de carbono em suas moléculas. Veremos mais detalhes a seguir.

MONOSSACARÍDEOS: OS CARBOIDRATOS MAIS SIMPLES

Os monossacarídeos ou açúcares simples, são os carboidratos mais simples, de onde derivam todas as outras classes. São constituídos por uma única molécula de açúcar, com três a sete átomos de carbono, geralmente na forma de cadeia ou anel.


Figura 01. Monossacarídeos do tipo Aldoses. Fonte: Rafael Salomão da Silva, 2022.

 

Os monossacarídeos mais comuns são a glicose, frutose e galactose. A glicose se caracteriza por ser a principal fonte de energia para o corpo humano, pode ser encontrada em uma grande variedade de alimentos, como grãos, vegetais e frutas. Já a frutose é encontrada em frutas e mel, e a galactose não é tão comum, estando presente em laticínios e outros produtos alimentares.

 

Entre as funções dos monossacarídeos, está a síntese de outras substâncias, como os ácidos nucleicos, glicoproteínas e glicolipídios, além de também serem usados na síntese de glicogênio (armazenamento de energia em animais) e amido (armazenamento de energia em plantas).

 

E sobre os dissacarídeos já ouviu falar? Eles se diferem porque são compostos por duas moléculas de monossacarídeos.

DISSACARÍDEOS: LIGAÇÃO DE DUAS MOLÉCULAS DE AÇÚCAR

Os dissacarídeos são carboidratos formados pela união de dois monossacarídeos, através de uma ligação glicosídica, que ocorre durante processo de desidratação, liberando uma molécula de água.

 

A sacarose é um dos dissacarídeos mais conhecidos, presentes nos açúcares de mesas, e é composta por uma molécula de glicose e uma de frutose, sendo encontrada em alimentos doces, refrigerantes, cana-de-açúcar e açúcar refinado. São importantes fontes rápidas de energia na dieta humana, facilmente metabolizados pelo corpo humano e desempenham diversos papéis biológicos essenciais.

 

A lactose é outro dissacarídeo importante, encontrada no leite e seus derivados, sendo a principal fonte de carboidrato do leite materno, é composta por uma molécula de glicose e uma de galactose e precisa da presença da enzima lactase para ser digerida e absorvida pelo organismo. Pessoas apresentam intolerância à lactose devido à baixa produção de lactase.

 

Além da sacarose e lactose, há outros dissacarídeos, como a maltose que é formada por duas moléculas de glicose e a trealose que é formada por uma molécula de glicose e uma de frutose. Também são importantes fontes de energia na dieta humana e estão presentes em cereais, tubérculos e algumas frutas.


Figura 02. Os principais polissacarídeos: lactose, sacarose e maltose. Fonte: Rafael Salomão da Silva, 2022.

POLISSACARÍDEOS: CARBOIDRATOS COMPLEXOS  

Os polissacarídeos ou glicanos são macromoléculas formadas pela ligação de muitas unidades de monossacarídeos, conectadas por meio de ligações glicosídicas, são carboidratos complexos. Os polissacarídeos mais importantes são o amido, glicogênio e celulose.

 

O amido é formado por moléculas de glicose ligadas entre si e é um dos polissacarídeos mais abundantes na natureza, encontrado em plantas e atua como uma reserva de energia. Quando consumido, fornece energia aos organismos pois no processo digestivo é quebrado em moléculas de glicose.

 

A celulose é um componente estrutural encontrado nas paredes celulares das plantas, que confere rigidez e resistência as estruturas vegetais, que é crucial na manutenção da estrutura e suporte das plantas. Como ocorre no amido, também é um polímero de glicose, porém com ligações do tipo b, que forma fibras insolúveis em água e que não são digeridas pelo ser humano.

 

Outro polissacarídeo importante é o glicogênio, responsável por ser reserva da célula animal, armazenado no fígado e músculos e usado como fonte rápida de glicose. Semelhante ao amido, mas com número de ligações maiores. Os polissacarídeos, em resumo, desempenham várias funções biológicas, de armazenamento de energia, suporte estrutural e fornecimento de substratos metabólicos.

 

MÉTODOS DE ANÁLISES LABORATORIAIS EM CARBOIDRATOS

Diversos são os métodos usados para análises em carboidratos (açúcares), dentre os mais comuns se destacam a cromatografia, a espectroscopia e a titulação. Vejamos abaixo:

CROMATOGRAFIA

A cromatografia é uma técnica que separa os componentes de uma mistura com base em suas propriedades de interação com uma fase estacionária e uma fase móvel. Na cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), a fase móvel (solvente líquido) é bombeada através de uma coluna, enquanto a fase estacionaria (resina porosa ou partículas revestidas) retém os componentes da amostra. Enquanto a fase móvel flui pela coluna, os componentes são retidos e separados pela fase estacionária, permitindo a detecção.

 

Com a cromatografia gasosa (GC), os carboidratos são convertidos em derivados voláteis antes da análise. A amostra é injetada em um injetor aquecido, é vaporizada e injetada na coluna cromatográfica. Dentro da coluna, os componentes da amostra são separados com base em suas interações com a fase estacionária e detectados posteriormente.


ESPECTROSCOPIA

Já a espectroscopia envolve a medição da interação da luz com a amostra, o que permite quantificar as substancias com base na absorção ou transmissão de luz em diferentes comprimentos de onda. Em análises de carboidratos, esse método aproveita as propriedades especificas de absorção de luz por certos grupos funcionais que estão nas moléculas.

 

Para a análise, a amostra com os carboidratos deve ser preparada e diluída de acordo com a metodologia escolhida. Posteriormente, a amostra é medida em espectrofotômetro em uma série de comprimentos de onda específicos, a luz passa pela amostra e a quantidade de luz absorvida pelos carboidratos presentes é registrada pelo espectrofotômetro. A absorbância registrada é comparada com uma curva padrão previamente construída, usando soluções padrões de carboidratos em concentrações conhecidas.

TITULAÇÃO

Titulação é o método clássico que envolve a adição gradual de um reagente de concentração conhecida a uma amostra até que a reação química específica ocorra. Esses métodos são essenciais para determinar a quantidade, a composição e as propriedades dos carboidratos em uma variedade de amostras, de alimentos e bebidas, até produtos farmacêuticos e biomateriais. A escolha do método mais adequado depende das características específicas da amostra e dos objetivos da análise.

 

Na titulação redox com uso de um indicador colorimétrico a amostra contendo o carboidrato de interesse é adicionada ao reagente mantido sob ebulição até que ocorra a mudança de cor, indicando o ponto final da reação. Este método é frequentemente utilizado para determinações de carboidratos redutores, como a glicose, usando as soluções de Fehling ou de Benedict.

 

Na titulação de açúcares redutores, frequentemente se usa o método Lane-Eynon (Fehling), veremos mais detalhes desse método a seguir.

MÉTODO LANE-EYNON

O método de Lane-Eynon, também conhecido como método de Fehling, é uma técnica analítica usada para determinar a presença de açúcares redutores em uma determinada amostra, e é utilizado em laboratórios de alimentos, bebidas e bioquímica.

 

Esse método envolve o uso de duas soluções, denominadas de solução de Fehling A e solução de Fehling B. A solução A é de sulfato de cobre (II) em meio ácido, enquanto a B é uma solução alcalina de tartarato de potássio e hidróxido de sódio. As suas soluções devem ser preparadas separadamente e mantidas em frascos escuros, pois são sensíveis à luz.

 

Tradicionalmente, essa análise titulométrica exige uso de bico de Bunsen ou chapa aquecedora, o que torna um procedimento demorado, mais perigoso e menos preciso, devido à dificuldade de padronização da temperatura.

 

O teste de Fehling envolve a adição da amostra à solução de Fehling A e aquecimento para oxidar o carboidrato, reduzindo o íon cúprico, para formar óxido de cobre (I) insolúvel, na cor vermelha ou alaranjada. Em seguida, a solução de Fehling B é adicionada, formando um complexo azul de íon de cobre (II) e tartarato que indica a presença de açúcares redutores. A intensidade da cor está relacionada à concentração de carboidratos, o que permite a determinação semi-quantitativa da concentração de carboidratos.

 

Para verificar o término do processo, pode-se empregar azul de metileno, cuja forma reduzida é incolor. No entanto, é importante o processo não exceder 3 minutos, pois qualquer tempo além desse resultará na decomposição dos açúcares e do próprio azul de metileno, especialmente durante o aquecimento prolongado entre 105 a 110°C.

 

Para a otimização do procedimento, a Tecnal desenvolveu o Determinador de açúcares redutores, modelos TE-0861 e TE-088, com base no método de Lane-Eynon. Com o uso desse equipamento é dispensada a utilização de acessórios adicionais, como o bico de Bunsen, então se obtém maior segurança na realização das análises, e o aquecimento por vapor facilita a troca de calor mais uniforme.

 

O modelo TE-088 possui um eletrodo de platina, que substitui o azul de metileno para a indicação do ponto final da titulação, isso garante precisão do método, quando comparado ao método tradicional, assim pode ser visualizado o ponto de inflexão por escala numérica, não dependendo da mudança de cor da solução.  

 

Para a utilização desses equipamentos é necessário o extrato pronto para titulação e para determinação de açúcares totais é preciso da realização prévia da hidrólise ácida. O determinador de açúcares redutores deve ser previamente aquecido, depois é adicionada as soluções de Fehling na cuba, completando com água até cobrir o eletrodo. Posteriormente, o potenciômetro é acionado, e quando a ebulição das soluções é completa deve-se iniciar a titulação da amostra que está na bureta.

 

Outros equipamentos que podem ser utilizados nesse processo: balança de precisão, balança analítica, dessecador, destilador de água, medidor de pH e banho maria.

 

Quer saber mais? Baixe o e-book exclusivo de "Açúcares Redutores" produzido pela Tecnal! Nele você encontra definição, importância, métodos de determinação, como a análise é feita e as suas vantagens.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao decorrer desse texto, vimos sobre a definição, funções, tipos de carboidratos, e os métodos utilizados em sua determinação. Os métodos como cromatografia, espectroscopia, titulação e método de Fehling (Lane-Eynon) são ferramentas valiosas para industrias e pesquisa, pois permite uma análise precisa e confiável dos carboidratos em diversas amostras. 

 

Portanto, compreender as técnicas de análise laboratorial em carboidratos é fundamental para garantir a qualidade e segurança dos produtos que consumimos e utilizamos em nosso dia a dia e para pesquisas na área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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