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Como interpretar uma análise de solos

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A análise de solos é uma ferramenta fundamental para a agricultura. Ela fornece informações críticas sobre as características físicas, químicas e biológicas do solo, permitindo a tomada de decisões informadas para o aumento da produtividade agrícola.

A análise de solos envolve coletar amostras de solo e submetê-las a uma série de testes laboratoriais. Esses testes avaliam uma variedade de propriedades do solo, desde a textura e a estrutura até os teores de nutrientes. Mas o que essas análises realmente nos dizem? Eles fornecem um quadro completo das condições do solo. Com essas informações em mãos, podemos tomar decisões informadas para melhorar a saúde do solo e a produtividade das plantas.


Coleta de amostras de solo

A coleta de amostras de solo é um dos passos mais importantes para obtenção de resultados precisos nas análises laboratoriais. Um procedimento de coleta adequado garante que as amostras sejam representativas e reflitam corretamente as condições do solo na área de interesse.

Antes de iniciar a coleta, é essencial planejar a amostragem. Defina a área a ser amostrada e divida-a em zonas homogêneas, baseando-se em características como tipo de cultura, topografia, textura do solo e histórico de manejo do solo. Em cada zona homogênea, selecione vários pontos de coleta para formar uma amostra composta, coletando em zig-zag. Normalmente, são recomendados de 15 a 20 pontos para cada zona, distribuídos de forma aleatória ou sistemática.

A profundidade de coleta deve ser adequada ao objetivo da análise. Para culturas agrícolas, costuma-se coletar amostras na camada arável, geralmente de 0 a 20 cm de profundidade. Para estudos mais específicos, pode ser necessário coletar em camadas mais profundas. Retire uma porção de solo em cada ponto de coleta, eliminando a vegetação superficial e resíduos orgânicos, misture bem as porções coletadas para formar uma amostra composta homogênea. Envie cerca de 300 gramas de amostra para o laboratório.


Qual a importância de uma coleta de amostras correta?

A representatividade da amostra é fundamental para garantir que os resultados das análises reflitam com precisão as condições reais do solo na área de interesse. Amostras não representativas podem levar a diagnósticos errôneos e a decisões de manejo inadequadas.

Análises baseadas em amostras corretamente coletadas permitem recomendações mais precisas para a correção de deficiências nutricionais, aplicação de fertilizantes e outras práticas de manejo do solo. Isso resulta em um uso mais eficiente dos insumos e em melhores resultados agrícolas. Além de diminuir o desperdício de recursos, tanto em termos de tempo quanto de dinheiro, ao assegurar que as intervenções sejam baseadas em dados confiáveis.


Parâmetros analisados em solos

A análise de solos envolve a medição de diversos parâmetros que fornecem informações essenciais sobre a fertilidade e a saúde do solo. Abaixo estão os principais parâmetros analisados.


  • PH (Potencial hidrogeniônico) do solo

O pH mede a acidez ativa solo, em uma escala de 0 a 14, que é a concentração de hidrogênio na solução do solo. Quando as plantas absorvem nutrientes com cargas positivas, o H+ é liberado no solo, isso reduz o pH. Reações com fertilizantes nitrogenados também liberam hidrogênio no solo.

O pH é determinado em solução de água e em alguns laboratórios é utilizada solução de CaCl2, a forma de determinação irá influenciar a interpretação da acidez ativa do solo.






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O pH do solo irá influenciar os teores de nutrientes e alumínio presentes no solo. Menores valores de pH diminuem a disponibilidade de Cl, Mo, B e de macronutrientes, além de aumentar a solubilidade de Al3+. Já nos solos com pH acima de 6,5 os nutrientes que tem disponibilidade reduzida são Zn, Cu, Fe e Mn. Portanto, para obter um solo com disponibilidade adequada de macro e micronutrientes, o pH deve estar na faixa de 6,0 a 6,5, o que também irá inibir a presença de alumínio na forma tóxica às plantas (Al3+) e proporcionar o desenvolvimento satisfatório da maior parte das plantas.

Disponibilidade de nutrientes e alumínio em função do pH do solo







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Em laboratórios de solos são usados pHmetros para determinar o pH, podem ser usados: medidor de pH digital microprocessador modelo R-TEC-7/2-MP.


  • Alumínio

O alumínio está presente em todos os solos, variando apenas a forma como se encontram. A forma solúvel e tóxica para as plantas é Al3+ e a insolúvel e não tóxica é Al(OH)3. Os pHs mais ácidos apresentam alumínio na sua forma tóxica, que prejudicam a absorção de nutrientes, água e reduz o crescimento das plantas.

Classes de interpretação para o teor de alumínio trocável (Al3+)



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O teor de alumínio solúvel (Al3+) será usado na determinação de saturação por alumínio (m) e quantificado por titulação da solução extratora, pode-se usar bureta digital, modelo 9392050 e agitador magnético.


  • Fósforo (P)

O teor de fósforo (P) no solo indica a quantidade disponível. O fósforo é um macronutriente essencial para as plantas, desempenhando um papel crucial na fotossíntese, na transferência de energia e no desenvolvimento das raízes. Os métodos mais comuns para a extração de P são o uso de resinas ou o método Mehlich-1. O valor de P determinado na análise de solo é relativo, refletindo o fósforo que as plantas conseguem absorver. A classificação de P vai variar de acordo com o método de extração escolhido, veja as tabelas abaixo.

Classes de interpretação para fósforo disponível em função da cultura e do fósforo remanescente (P-rem).



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Classes de interpretação para fósforo disponível pelo extrator Resina em função da cultura.


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O teor de fósforo (P) pode ser extraído pelo método de resina de troca iônica, usando mesa agitadora orbital – resina TE-145/360separador de resina TE-310/1, recuperador de resinas TE-308/2. Outro método que pode ser usado é o Mehlich-1: mesa agitadora orbital – mehlich TE-145/176. Após a extração, deve-se realizar a quantificação de P, usando-se espectrofotômetro digital ESPEC-V-5000.

Acesse nosso blog e veja a diferenças entre esses dois métodos: "Fósforo: Mehlich ou Resina?"


  • Potássio (K)

O potássio também pode ser extraído pelos métodos de Resina ou Mehlich-1, porém os valores de K irão diferir menos do que acontece em P. A maior porcentagem de potássio no solo não está na forma disponível para as plantas, está nas estruturas dos minerais. Então altos valores de P indicam minerais primários, solos pouco intemperizados.

Classes de interpretação para potássio disponível, pelo extrator Mehlich-1, em função da cultura.


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Classes de interpretação para potássio disponível pelo extrator Resina.






  • Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg)

O cálcio (Ca) e o magnésio (Mg) são macronutrientes e estão no solo na forma trocável, ou seja, absorvível pelas plantas e estão relacionados a acidez do solo. Baixos teores de cálcio e magnésio indicam solos ácidos e altos teores indicam solos férteis.

Classes de interpretação para cálcio e magnésio.


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Esses elementos também são extraídos pelo método de Resina ou Mehlich-1 e podem ser quantificados com espectrofotômetro de absorção atômica GBC-SAVANTAA ou espectrofotômetro de emissão atômica GBC-QUANTIMA.


  • Micronutrientes

Os micronutrientes são elementos químicos vitais para as plantas, embora sejam necessários em quantidades muito menores do que os macronutrientes. Eles podem ser divididos em dois grupos com base na forma de absorção: catiônicos – zinco (Zn), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), cobalto (Co) e níquel (Ni); e aniônicos – boro (B), cloro (Cl) e molibdênio (Mo).

Classes de interpretação para micronutrientes disponíveis no solo.




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  • Soma de bases (SB)

A soma de bases (SB) é a quantidade total de cátions básicos presentes no solo. Os principais cátions básicos são cálcio (Ca²⁺), magnésio (Mg²⁺), potássio (K⁺) e sódio (Na⁺). A soma de bases é um indicativo da fertilidade do solo, uma vez que esses cátions são essenciais para o crescimento das plantas.

Classes de interpretação para a soma de bases (SB).


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Solos com alta SB tendem a ser mais férteis, oferecendo um melhor ambiente para o desenvolvimento das plantas. Já solos com baixa SB podem necessitar da aplicação de corretivos e fertilizantes para suprir a deficiência de nutrientes.


  • Capacidade de troca de cátions (CTC)

A capacidade de troca de cátions (CTC) refere-se à capacidade do solo de reter e trocar cátions entre a fase sólida e a solução do solo. A CTC é influenciada pela quantidade de matéria orgânica e de argila presente no solo.


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Classes de interpretação para a CTC Total (T).



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Solos com alta CTC têm uma maior capacidade de retenção de nutrientes e, portanto, são mais resistentes à lixiviação de cátions. Baixos valores de CTC no solo podem necessitar de aplicações mais frequentes de fertilizantes, pois têm menor capacidade de retenção de nutrientes.


  • Saturação por bases (V)

A saturação por bases é a porcentagem da CTC ocupada por cátions básicos (Ca²⁺, Mg²⁺, K⁺ e Na⁺). Este parâmetro é calculado pela fórmula:



Classes de interpretação para saturação por bases (V)


Uma V alta indica que a maior parte da CTC está ocupada por bases, o que é desejável para a maioria das culturas. V baixa sugere que há necessidade de correção da acidez do solo, normalmente através da aplicação de calcário, para aumentar a presença de cátions básicos.


  • Saturação por alumínio (m)

A saturação por alumínio é a porcentagem da CTC ocupada por íons de alumínio (Al³⁺). Este parâmetro é crucial porque altos níveis de alumínio podem ser tóxicos para as plantas, prejudicando o crescimento radicular e a absorção de nutrientes.

Classes de interpretação para saturação em alumínio (m).



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Solos com alta saturação por alumínio geralmente têm pH baixo (são mais ácidos) e podem ser tóxicos para muitas culturas. Reduzir a saturação por alumínio geralmente envolve a aplicação de calcário para aumentar o pH do solo e precipitar o alumínio na forma de compostos não-tóxicos.


Considerações Finais

A interpretação de análises de solo é essencial para a produtividade agrícola. Compreender os dados fornecidos pelas análises de nutrientes, pH, capacidade de troca catiônica, matéria orgânica, e outros parâmetros críticos permite o manejo adequado de áreas de produção. Ao ajustar práticas de fertilização e manejo com base nessas informações, é possível otimizar o crescimento das plantas, melhorar a qualidade dos solos e aumentar a produtividade.