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Bacillus thuringiensis e sua contribuição para uma agricultura mais sustentável
biorreator
HISTÓRIA
Bacillus thuringiensis é uma
espécie de bactéria entomopatogênica que se encontra em solos de todos os
continentes. Esta bactéria foi inicialmente descoberta pelo biólogo japonês Ishiwata Shigetane em 1902 como um
agente causador de doenças em bichos da seda. Porém em 1911, esta
bactéria foi redescoberta pelo cientista Ernst Berliner, que durante suas pesquisas isolou a causa de doenças em
larvas no solo do estado de Turíngia na Alemanha.
Originalmente
se pensava que esta bactéria era um risco para animais como o bicho da seda,
porém hoje são consideradas como ‘’coração’’ do controle microbiano de insetos,
correspondendo à mais de 90% dos inseticidas presentes no mercado. Devido ao
seu poder inseticida, Bt vem sendo usada como tal desde 1938 na França,
e nos Estados Unidos a partir da década de 50.
Berliner
notou que as bactérias produziam proteínas cristalizadas com efeito inseticida,
ocasionando morte celular no trato digestivo do inseto. Estas
proteínas têm sido usadas em sprays inseticidas desde a década de 30 para
controlar insetos na agricultura.
Devido
ao efeito tóxico aos insetos, cientistas identificaram e isolaram o DNA da Bacillus
thuringiensis (Bt) por meio da biotecnologia e o introduziram em
culturas como soja, cana de açúcar, milho e algodão, tornando-as resistentes à
insetos como lagartas da soja, broca da cana e besouros.
APLICAÇÃO E
CARACTERÍSTICAS
Bactérias e outros microrganismos são responsáveis pela
decomposição de matéria orgânica, solubilização e mineralização de nutrientes,
assim como são responsáveis pela liberação de compostos orgânicos como enzimas,
ácidos, antibióticos, metabólitos e vitaminas.
Bacillus thuringiensis é uma bactéria gram-positiva, aeróbia
não estrita, com faixa de temperatura de
crescimento entre 10° e 45°. Tem como característica principal, a formação de
inclusões proteicas cristalinas durante a fase de esporulação. Estas inclusões
contém uma série de proteínas com função inseticida como as α-exotoxinas,
β-exotoxinas, δ-endotoxinas (proteínas Cry e Cyt) e proteínas inseticidas
vegetativas (VIP), que são produzidas e secretadas durante a fase vegetativa de
crescimento das bactérias. A função
inseticida das Bt é devido à presença dos cristais denominados
delta-endotoxinas ou proteínas Cry. Estas proteínas são responsáveis pela
atividade entomopatogênica nos insetos alvos, sendo eficaz em diferentes ordens
de insetos como Lepidoptera e Coleoptera.
Estas proteínas que tem a forma
de cristais, quando ingeridas pelas larvas dos insetos, são solubilizadas no
intestino devido ao pH alcalino, e com isso liberam pró-toxinas que são
clivadas por proteases, tornando-se toxinas ativas. Fisher (2014) reporta que tais toxinas agem
paralisando o aparelho digestor das larvas e posteriormente, levam à morte por inanição e paralisia geral dos
músculos.
O efeito tóxico das proteínas começa logo após sua ingestão, dentre os sintomas está a perda de apetite do inseto e o abandono do alimento, seguida por paralisia do intestino e posterior morte. As larvas mortas com intoxicação provocadas por Bt, apresentam a cor negra característica desta infecção.
PRODUÇÃO DE INSETICIDAS BT
A demanda por produtos de origem biológica vem crescendo por ser uma alternativa viável e segura, entretanto sua produção e uso deve seguir critérios de segurança e qualidade, sendo essencial o uso de equipamentos e técnicas de manipulação que garanta segurança para o usuário e meio ambiente.
Para a produção de produtos
biológicos, é essencial ter uma estrutura física adequada, equipamentos e
insumos de boa qualidade. As principais etapas para produção consistem em:
bioprospecção, estocagem dos microrganismos, processo fermentativo, recuperação
dos princípios ativos de interesse (proteínas, esporos), formulação do produto
e controle de qualidade.
Após a seleção das cepas a serem
utilizadas, a multiplicação se dará através de processo fermentativo em
biorreatores, composto de seus atuadores como: controle de pH através da adição
de ácido e base, temperatura, adição de nutrientes, controle e monitoramento do
oxigênio dissolvido, entre outros.
Além do uso de biorreatores,
também é necessário o uso de uma caldeira geradora de vapor ou autoclave, que
faz a esterilização do meio de cultivo, assim como a esterilização de todas as
entradas de sensores e outros acessórios, um compressor de ar, sistema de
resfriamento e outro equipamento que fará a separação/ filtração dos
compostos de interesse para produção do produto final.
A forma mais comum e eficiente
para produção de produtos compostos de Bt se dá através de processos
fermentativos submersos em biorreatores. A fermentação acontecerá em um
vaso ou dorna de reação, contendo o meio de cultura líquido mais apropriado
para a espécie.
CULTIVO EM BIORREATORES
Os meios de cultivo geralmente possuem uma fonte de carbono (glicose, amido e dextrose), uma de nitrogênio ( peptona, extrato de caseína) e sais minerais (cálcio, manganês, zinco e magnésio), sendo necessário às vezes a adição de antiespumante.
A fonte de carbono, que tem como
função fornecer energia, pode ser oriunda de resíduos industriais como melaço
de cana, água de maceração de milho.
A fonte de nitrogênio tem como
função a síntese de proteínas e ácidos nucleicos, e os sais minerais agem como
co-fatores e regulam o estresse osmótico na célula.
Após a seleção do meio de
cultura e seus componentes, este deve ser colocado no biorreator e a
checagem e calibração dos sensores de pH, temperatura, O2 e antiespumante devem
ocorrer. Após o ajuste dos parâmetros, deve-se adicionar a cepa escolhida com
aproximadamente 2% do volume do meio a ser inoculado, sendo necessário manter
os parâmetros de controle dentro da escala ótima para crescimento da Bt.
A faixa de pH do meio de cultura
para Bacillus t. está entre 6.8 e 7.8
não sendo aconselhável passar de valores acima de 8.5, o que pode levar
à solubilização das endotoxinas. A
temperatura a ser mantida deve estar entre 28 e 32°. Outro parâmetro que requer
atenção é o oxigênio dissolvido, que deve ser mantido em torno de 40% sem atingir
valores inferiores a 20%, isto porque à medida que o processo fermentativo
avança, a exigência de OD aumenta.
O tempo de fermentação pode
durar entre 24 e 72 horas, dependendo das condições de cultivo. A fermentação
ocorre em biorreatores de bancada que variam entre 1,5 litros e 15 litros, e
biorreatores piloto que variam entre 25 litros até mais de 10 mil litros,
sempre com controle e monitoramento dos parâmetros como temperatura, pH e
aeração.
Ao final da fermentação, o caldo
fermentado passa por filtração e recuperação dos esporos e toxinas em uma
coluna de micro/ultra filtração, sendo um dos métodos mais utilizados
para tal função. Após essa filtração e recuperação dos metabólitos de
interesse, ocorre a formulação do produto que tem como objetivo entregar um
produto estável durante a aplicação e estocagem, assim como proteger os
microrganismos e cristais das condições adversas ambientais.
Antes da comercialização do produto,
é realizada a análise de qualidade que o produto apresenta, principalmente sua
toxicidade, sendo analisada através de bioensaio com o inseto alvo. Estes
testes são essenciais para garantir segurança do usuário e do meio ambiente.
Nos Estados Unidos estes testes são regulamentados pela Agência de Proteção
Ambiental (US EPA) e departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), sendo
no Brasil regulamentado pela Anvisa.
Apesar de biopesticidas e outros
produtos de origem biológica poder controlar vários tipos de doenças e pragas,
sendo cada ingrediente ativo específico para o alvo pretendido, esta prática
não substitui completamente o uso de químicos sintéticos, pois o uso integrado
de ambos contribui para o crescimento da agricultura.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÂNGELO, E. A.; VILAS_BÔAS, G. T.; CASTRO-GÓMEZ, R. J. H. Bacillus thuringiensis: características gerais e fermentação.Londrina:Semina: Ciências Agrárias, v.31, n.4, p.945-958, out./dez. 2010.
BOBROWSKI, V. L.;
FIUZA, L. M.; PASQUALI, G.; BODANESEZANETTINI. Genes de Bacillus
thuringiensis: uma estratégia para conferir resistência a insetos em
plantas. Santa Maria:Ciência Rural, , v.34,n1,p.843-850, setout, 2003.
FISCHER, T. D. Avaliação do inseticida biológico (Bacillus thuringiensis) no manejo de pragas em cultivares de soja (Glycine Max L.) modificadas geneticamente. Ijuí:Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 2014.
GUSMÃO, F. P. Bioinseticida
à base de Bacillus thuringiensis.Lorena:Monografia apresentada à
Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo, como requisito
para a conclusão do curso de graduação de Engenharia Bioquímica, 2013.